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BLOG DO LICÍNIO

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Farmacêutico, Professor e Franciscano Secular

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Quando Deus nos soca o estômago.

Licínio Andrade Gonçalves

Originalmente publicado no Facebook dia 20.03.2020

Às vezes Deus coloca pessoas na nossa vida para mostrar o quão pouco conhecemos dEle! Hoje, 20.03.20, mais uma vez Ele veio à janela da farmácia da UBS Alvorada - na verdade Ele não falha nem um dia - e me socou o estômago vazio de meio-dia.

Em plena pandemia de Covid-19, me ponho a atender uma senhora na casa dos seus 80 e tantos anos, negra e de voz forte, cabelos indicando a muita idade. Ela me estende uma prescrição que prontamente atendo. Naquele momento, dono da atenção da sra. Maria da Conceição (nome real) moradora da Vila Boa Esperança, em Betim, aproveito a oportunidade para lhe aconselhar a ficar em casa e evitar contatos sociais, especialmente o ônibus que ela me relatou ter pegado para chegar ali.

Foi um papo interessante. Eu tentando assustá-la e ela se assustando de verdade. Foi quando ela me estendeu outra prescrição, a da sua filha de 40 e poucos anos. Foi aí que eu cresci! Como uma filha deixava a mãe ir buscar medicamentos em um posto lotado em plena campanha para "trancafiar" os idosos em casa?

Cheio de mim, achando que estava fazendo um bem para a humanidade, sentenciei: - Dona Maria, fale com sua filha que eu proibi a senhora de vir buscar medicamentos aqui pelos próximos 4 meses! Ela só fazia rir do meu jeito brincalhão.

Querendo render assunto perguntei sobre o trabalho da filha. Estava desempregada há mais de ano. Uma menininha pra criar e que, muitas vezes, não tinha o que dar para comer. O nó começou a me estrangular. Parei de falar e comecei a ouvir. No fim descobri que Dona Maria Conceição era a única que podia buscar os remédios, pois não pagava ônibus.

Quando, sentado no meu apartamento de classe média em Belo Horizonte, eu poderia imaginar que Dona Maria, como muitas Marias do mundo, não tinha outra opção a não ser ir ela mesma buscar os medicamentos da família?

São nestes momentos que o nó estrangula e sufoca, que a visão se turva e goteja, pois vejo Jesus crucificado ali na minha frente.

Paz e Bem!

É hora de deixar a segurança da escravidão

Licínio Andrade Gonçalves

Originalmente publicado no Facebook em 25.06.2020


Não importa o horário. Todos os momentos têm sido tardes de domingo. É aquela angústia, aquela sensação de hora do "Fantástico" se aproximando, mesmo não assistindo a rede Globo.

Há algo de esquisito no ar, como se a realidade estivesse mais densa, como se o ar tivesse ficado mais viscoso. As pessoas andam tristes. Acho que é isso! A tristeza adensa, gruda e faz tudo andar como se estivéssemos com o freio de mão puxado. É que está morrendo muita gente. Muita gente também está sem perspectiva e vive uma outra morte. Há ainda quem beba dessa bebida densa, viscosa e fúnebre dos nossos dia e, envenenada a alma, saia contagiando ódio. Diferente da Covid-19, o ódio não deixa ninguém assintomático. Pior ainda, não confere imunidade definitiva.

Em italiano a palavra "bruto" quer dizer feio. Não encontrei melhor definição para os nossos dias. São tempos brutíssimos nos dois idiomas. Quando li sobre a nuvem de gafanhotos não puder deixar de lembrar das pragas do Egito. O que diriam os antigos se vissem rios de lama, mares negros de óleo, incêndios que consomem florestas, dias transformados em noites pela fumaça, cervejas envenenadas, mortes incontáveis por uma doença invisível e agora nuvens de gafanhotos. O problema é que não há Moisés que dê conta. Haja sangue de cordeiro para passar nos umbrais de nossas portas.

O anjo da morte está colhendo não só os primogênitos, mas agora leva também os anciãos. Se não fizermos nosso êxodo agora, as tropas milicianas do Faraó nos alcançarão. É hora de deixar a segurança da escravidão e nos aventuramos no deserto da liberdade. Nosso modelo de sociedade expôs suas chagas purulentas. Temos que abrir o mar, este mar denso e viscoso que se tornou nossa realidade, fazer a travessia. Vivemos em tempos divisores de águas, não nos enganemos. Resta saber quem chegará ao outro lado de pés enxutos.

Paz e Bem!

Onde as certezas não dão lugar à razão.

Licínio Andrade Gonçalves

Publicado originalmente no Facebook no dia 28.08.2020

Há muito penso em um dilema: é justo condenar com os olhos de hoje erros das gerações passadas? Posso eu, com os meus olhos de homem branco ocidental do século XXI, julgar o meu ancestral europeu pela invasão do continente americano, pela escravidão negra e genocídio indígena? Atenção, assumo que temos uma dívida histórica com estes povos e acho justa e necessária qualquer política de reparação, como as cotas, as demarcações de terras indígenas e quilombolas... Só questiono uma condenação retrógrada, quando temos parâmetros morais diferentes (mais evoluídos, quero crer).

O que dirão as gerações futuras ao analisar nossa sociedade? Tenho certeza que seremos tidos como bárbaros! Afinal, apesar de ser legal e defendido por boa parcela da população, o que parecerá o homem do futuro sobre o despejo de famílias pobres e trabalhadoras para dar as terras a um latifundiário devedor de impostos? Já repararam que as pessoas em situação de rua viraram paisagem? Que as mulheres ganham menos fazendo o mesmo trabalho e muitos acha que tem que ser assim mesmo, pois engravidam?

Mas graças a Deus evoluímos e evoluiremos, reconhecendo erros e tentando não mais cometê-los. Não sou escravo do meu passado, apesar de ser responsável por ele. Se eu não pudesse ser melhor, de que serviria viver?

Às vezes me pergunto o que pensam meus companheiros de farra e esbórnia ao me verem franciscano secular. Já fiz muita coisa errada (aos olhos de hoje) e que não repetiria se tivesse a cabeça que tenho agora. Nem por isso me sinto acorrentado por elas. Posso estar errado em uma série de coisas que defendo hoje e quase certamente estarei, mas vivo e digo o que acredito agora.

Quanto a criança que estava grávida de outra criança, penso que haveria um bom número de possibilidades diferentes, menos violentas e traumáticas, mas quem sou eu para condená-la? Fosse ela minha filha talvez não deixasse que abortasse, mas ela não é!

Nem sei se tem alguma crença, se reza para algum deus. Creio ser difícil acreditar em Deus sendo estuprada desde os 6 anos. Como dizer que Deus é Pai, quando segundo o estuprador, o seu pai também abusava dela? Ao termos a possibilidade de apresentar um Deus que acolhe e que está ao lado do sofredor, pois Ele mesmo sofreu as injustiças desse mundo, apresentamos um deus que condena, que excomunga, que abre as portas do inferno.

No direito canônico não há abertura para o aborto, mas não é o Código Canônico que rege nossa sociedade. Pode ser que no futuro entendamos que o aborto realmente é um crime, ou que não. Com certeza continuaremos a ter certeza que o estupro o é!

Milenarmente as índias matam bebês que nasçam com deficiências, gêmeos ou frutos de adultério. Vão todas para o inferno? Na cresça delas é o que há de mais humano a fazer com aquelas crianças e o fazem por tradição e por amor.

Divagações, eu sei, mas achei serem relevantes neste momento sombrio da história onde as certezas não dão lugar à razão!

Cadê o orgulho de ser brasileiro?

Licínio Andrade Gonçalves


Li a publicação da amiga/irmã Giovanna Fonseca Beaumord, que contava algo que também vivemos: o orgulho de sermos brasileiros no exterior. Não vou enaltecer somente o Lula, pois ele foi a expressão de um anseio popular forjado a duras penas e lutas diárias contra uma política econômica e social excludente e elitista, m
as houve época que ser percebido como estrangeiro e se declarar brasileiro era quase um êxtase.

O Brasil era exemplo da superação das desigualdades e tínhamos a ousadia de sermos terceiro mundo com orgulho. O orgulho não residia em podermos viajar para o exterior, nem em ter acesso aos bem de consumo desejados, mas em vermos negros nas universidades, cidadãos das classes C e D viajando de avião, o trabalhador tendo direito a fazer um churrasco e comendo 3 (ou mais) vezes ao dia.

Qualquer cristão deveria se sentir orgulhoso disso. Mesmo para os pentecostais defensores da "teologia da prosperidade", um país assim deveria ser sinal da aprovação do deus que eles acreditam. Mas não, não basta eu estar bem, não basta eu ter minhas necessidades satisfeitas, na cabeça doentia de uma "elite do atraso" (segundo Jessé de Souza) o que importa é eu estar melhor que os outros. Meu filho, branco, poliglota e educado em um dos melhores colégios católicos de Minas Gerais, não poderia dividir assento nas Universidades Federais com negros e pobres. Isso tinha que acabar!

Leonardo Boff diz que "cada ponto de vista é a vista de um ponto". É justamente nessa hora que agradeço a graça divina, ao Deus que acredito, por ter me oportunizado duas coisa simultaneamente: ter a educação da classe média e a perspectiva dos pobres.

É por isso que postei a imagem abaixo. Tenho uma profunda vergonha de um povo autofágico, que prefere entrar para a história como o segundo país que mais matou gente durante a pandemia do que admitir que errou na escolha do presidente. Aproximadamente 1/4 da população brasileira ainda se ocupa da ginástica absurdamente exaustiva de defender o governo federal.

Por fim, me restam algumas certezas: 1ª estou certo, 2ª mais cedo ou mais tarde vamos sair dessa, 3ª se você acha bom o que está acontecendo ou é empresário, ou é iludido ou é burro mesmo!


Paz e Bem a todos!

Feliz dia do professor para aqueles que ainda tem emprego

Licínio Andrade Gonçalves

Originalmente publicado no facebook dia 15.10.2020

Costumo brincar com um fato da minha vida. Digo que como franciscano, profissional da saúde (não médico) e professor, fiz triplamente o voto de pobreza. Como toda brincadeira sempre carrega um fundo de verdade, essa não seria uma exceção (infelizmente).

Hoje, data na qual se comemora o dia do professor, venho fazer um pedido aos governantes e aos empresários do setor: não encarem o professor como um custo, mas como alicerce de uma nação ou, no mínimo, como diferencial da sua escola ou faculdade privada.

Sem entrar em questões partidárias, mas nestes 20 anos como educador do ensino superior eu presenciei e senti no bolso as diferenças de prioridades em períodos distintos da nossa recente história. E nesses últimos 5 anos, estamos descendo uma ladeira bem íngreme.

O glamour de ser professor não paga as contas! As homenagens recebidas não quitam boletos! Não dá para se alimentar da admiração dos alunos! Isso é fato! Não estou dizendo que isso tudo não nos emociona e motiva. Aliás, se ainda insisto em ser professor é também por isso.

Enfim, acho que estamos no caminho errado. A Coreia do Sul deixou de ser um dos países mais pobres do mundo nas décadas de 1950 e 60 e se tornou uma nação desenvolvida e de alta renda em apenas uma geração, especialmente a partir da década de 1980. Este avanço econômico repentino, conhecido como "Milagre do Rio Ha", tornou o país um dos polos industriais e tecnológicos do mundo, com uma economia diversificada e avançada. Qual o segredo? Investimento maciço em EDUCAÇÃO. Criação de universidades e qualificação de professores foi a base.

Desculpem-me o desabafo nesse dia, mas é frustrante ver seu país ser tirado dos trilhos; ver gente negando a ciência; ministros da educação que mais parecem bobos da corte e gente alucinada apoiando essa sandice.

Feliz dia do professor para aqueles que ainda tem emprego, que conseguem fechar o orçamento no fim do mês e não tem uma crise de nervos todo fim de período letivo, seja pelo acúmulo de atribuições, seja pelo medo de ser demitido. Feliz dia do professor a quem consegue manter a Paz e ainda fazer o Bem!

quarta-feira, 23 de março de 2016

PREMISSA ERRÔNEA, ERRO DE FATO

Por Licínio Andrade Gonçalves

Como pesquisador, cansei de ver experimentos fracassarem por estarem fundamentados em hipóteses erradas. O mesmo vem acontecendo com as análises do momento político nacional, ou seja, tendo como fundamento uma premissa errônea, não há como chegar a uma conclusão correta.
A primeira e principal premissa errônea e que vem motivando muito ódio nas ruas é a visão antiquada do que seria um governo de esquerda. Esta visão vem arraigada naqueles que, como eu, nasceram e cresceram durante a ditadura militar. Hoje em dia, quando falamos de esquerda, devemos fazê-lo pragmaticamente. Como diz Pio Giovani Dresch “não defendo coisas que no meu tempo histórico me parecem irrealizáveis. Para mim, hoje, no Brasil e no mundo, ser de esquerda é lutar pela redução das desigualdades sociais, por saúde e educação para todos, pela defesa do meio ambiente, pela igualdade de gêneros, por políticas de inclusão, contra a brutal concentração de renda”.
A premissa errônea número dois é que a corrupção é conjuntural, ou seja, está localizada física e temporalmente neste ou naquele governo. As provas recentemente recolhidas pela Operação Lava Jato junto à empreiteira Odebrecht, mostram planilhas com nomes de políticos ou não, que receberam “financiamento” da empreiteira. Alguns datam de 1980. Ou seja, a corrupção é estrutural e não conjuntural. Alternam-se os atores mas o palco permanece o mesmo. Digo mais, é provável (na verdade, certo) que este esquema exista desde de antes do governo militar.
Isso não exime ninguém de culpa! Só toco no assunto, pois a premissa de que trocar o governante acaba com a corrupção também é falsa. Como sugerido pelo Governo em 2013, logo após as manifestações que tomaram o país, a solução seria convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para realizar uma ampla reforma política. Mas vejam bem, os representantes deveriam ser eleitos unicamente para este fim, ou acham que poderíamos deixar este assunto nas mãos dos atuais ocupantes do legislativo federal?
Há muitas outras premissas erradas, como a da isenção da imprensa e de setores do judiciário, mas prefiro deixar para outra hora. Enfim, não dá para encontrarmos respostas corretas quando fazemos as perguntas erradas, ou ainda, não podemos construir um novo país sobre os mesmos alicerces do velho e condenado sistema político.
Pense!

Fontes citadas:
http://bissexto.com.br/a-crise-e-a-solidao/http://extra.globo.com/noticias/brasil/contabilidade-da-odebrecht-indica-pagamento-de-propina-desde-os-anos-1980-18938164.html?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Há tempos não escrevo, mas gostaria de compartilhar um texto do prof Rodrigo Ribeiro, publicado no seu blog "Amontoado de Ideias".

Faço isso quando encontro um grau de comunhão de opiniões que me faz perguntar: - Por que não fui eu que escrevi?

Então, vamos ao texto!


"COMO É DAR AULA NO ENSINO SUPERIOR E A CORRUPÇÃO NA UNIVERSIDADE

24 junho 15
Pensei em escrever um texto crítico e formal a respeito da educação e da sociedade. Mas dizer que a educação é a salvação já ficou meio fora de moda. Portanto, acho melhor apenas contar pra vocês como é dar aula. Lembrando que este texto não é uma crítica à profissão. É apenas uma exposição das frustrações diárias e um apelo a uma mudança urgente de postura, não só dos alunos, mas da sociedade como um todo. Aqui mostro como a postura corrupta está enraizada nos alunos e já virou parte da comunidade acadêmica.

Antes, uma pausa para minha relação com a profissão. Particularmente, gosto muito de ensinar. Gosto de matemática e gosto de entender matemática. Passar adiante minhas paixões é algo que faço por amor. Nunca houve problema sério o bastante para não desaparecer diante do quadro, dos alunos e sobre o tablado. Dar aula e pensar a respeito de matemática apagam, momentaneamente, claro, todos os meus problemas.

“FAZ PROVA FÁCIL!”

Minha felicidade se esvai diante das avaliações, dos comentários, da falta de compromisso dos alunos. Ouve-se mais “alivia aí, fessô!” do que “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite.” Há liberdade para chorar, mas não há liberdade para a educação e cortesia.

“VALE PONTO, FESSÔ?”

Em sua maioria, aluno não faz nada sem receber algo em troca. E a moeda de troca é chamada de ponto. A única motivação é o ponto. Sugestão de livros? Só valendo ponto. Lista de exercícios? Só valendo ponto. Fazer pelo conhecimento é ser taxado de idiota.

TRABALHOS E LISTAS

Tudo copiado. A cópia é quase sempre nítida. Conjecturo que numa turma de k alunos, apenas \sqrt{k} realmente fazem os trabalhos, enquanto todo o restante apenas copia dos colegas.

Pai Rodrigo adivinhando o futuro: Esse aluno que só copia vai taxar de vagabundo moradores de rua. Vai dizer: “emprego tem demais, basta querer!”

AULAS DE EXERCÍCIOS

Durante aulas de exercícios, ninguém faz nada. O pedido geral é um resumão bem estilo pré-vestibular. Melhor ainda se você dar dicas do que cairá na prova (e pensar que nem assim os resultado são bons.) Gente pra gritar “faz um resumão aí, fessô!” Nunca falta. Você dá aula por meses antes de avaliação e aí lhe aparece vários que não prestaram atenção em nada, mas no dia da aula de exercícios eles aparecem lá só pra gritar a frase anterior ou pra escolher um exercício aleatório que sequer tentaram. Qual a razão de dar aula se no fim é dado um resumo mágico que abre todas as provas e desvenda todos os segredos?

LISTA DE PRESENÇA

Como aluno, confesso, nunca gostei de ir às aulas. Sempre preferi estudar sozinho. Assim poderia estudar durante a madruga, horário que sempre fui mais produtivo. Nunca tive problemas com chamadas. A aprovação era minha absolvição. Por conta disso, a única postura que adotei como professor foi a de passar uma lista de chamada e reprovar por infrequência apenas aqueles que não obtiveram 60 pontos. Ou seja, não precisou ir à universidade para ser aprovado? Parabéns, campeão.

A regra da UFMG é reprovar aluno infrequente. Tenha ele a pontuação necessária para sua aprovação ou não. Portanto, estou isentando o aluno de um dever: frequentar a universidade. Qual o resultado? Alunos assinam as listas pelos colegas. O sujeito foi livrado de um dever, mas ele não quer dar nada como contra-partida. Ele ainda quer o direito de, caso reprovado na pontuação, fazer o exame especial.

Nem vou comentar que assinar um documento em nome de outra pessoa é crime. Tem até nome: falsidade ideológica.

Logo, se o professor deseja ser rigoroso com a lista de presença, ele deve chamar nome a nome, como lá nos tempos da escolinha infantil Girafinha Feliz.

Pai Rodrigo adivinhando o futuro: Esse mesmo aluno que pede pro colega assinar a chamada, acha um absurdo o médico que só bate ponto e vai embora. Vai reclamar também do deputado que estava batendo dedo lá pro outro. Vai postar lá na timeline “É um absurdo!”

PROVAS E COLAS

Esta é a pior parte e a maior prova de que ninguém se preocupa com educação. Durante os meses de aula, o aluno não fez nada. Porém, chegada a prova, não foi possível estudar todo o conteúdo ou simplesmente não estudou mesmo. Qual o recurso utilizado? Cola. A pessoa não cumpriu com suas obrigações como aluno, nada fez até o momento da prova, porém ele ainda quer obter bom resultado. Apesar de totalmente irresponsável, o aluno ainda acha plausível apelar para a cola. Ainda quer uma boa nota. Isso é o absurdo dos absurdos. A incoerência da incoerência.

Existem ainda casos mais absurdos. Aqueles que os alunos pagam outros para fazer a avaliação em seus lugares (preciso lembrar que aqui também se comete crime?). Chegamos ao ponto ridículo de precisar olhar documento dos próprios alunos por conta dessa atitude patética. Isso é literalmente comprar o próprio diploma. É ridículo querer o diploma mas não querer fazer nada.

Pai Rodrigo adivinhando o futuro: O aluno colador, que hoje é engenheiro porque pagou gente mais esperta que ele pra se formar, vai gritar “Abaixo a corrupção!” aqui na porta de casa. Ele também vai compartilhar um monte de reportagem sobre escândalos de corrupção e vai dizer que esse país não tem jeito.

O ALUNO, O PATRÃO E O FUTURO

Enquanto considerou coisa de otário estudar quatro horas por dia, o aluno corrupto vai gastar 12h do seu dia, muito possivelmente, fazendo dinheiro pra outra pessoa. Ele não vai chegar pro chefe “alivia aí, chefe!”, “quebra essa aí, patrão!” porque ele sabe o destino de empregado molengão: rua. E ele vai dar duro, porque, ao contrário da educação superior, valoriza o emprego que tem. Sua timeline estará repleta de links contra a corrupção na política, contra desvio de verbas, enquanto continua perpetuando que colar não tem problema, assinar lista é “de boa” e pagar para fazerem suas avaliações é coisa de esperto. E assim continuaremos sendo essa sociedade que ainda não entendeu o valor moral e intelectual da universidade, pelos séculos dos séculos…"