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Farmacêutico, Professor e Franciscano Secular

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Onde as certezas não dão lugar à razão.

Licínio Andrade Gonçalves

Publicado originalmente no Facebook no dia 28.08.2020

Há muito penso em um dilema: é justo condenar com os olhos de hoje erros das gerações passadas? Posso eu, com os meus olhos de homem branco ocidental do século XXI, julgar o meu ancestral europeu pela invasão do continente americano, pela escravidão negra e genocídio indígena? Atenção, assumo que temos uma dívida histórica com estes povos e acho justa e necessária qualquer política de reparação, como as cotas, as demarcações de terras indígenas e quilombolas... Só questiono uma condenação retrógrada, quando temos parâmetros morais diferentes (mais evoluídos, quero crer).

O que dirão as gerações futuras ao analisar nossa sociedade? Tenho certeza que seremos tidos como bárbaros! Afinal, apesar de ser legal e defendido por boa parcela da população, o que parecerá o homem do futuro sobre o despejo de famílias pobres e trabalhadoras para dar as terras a um latifundiário devedor de impostos? Já repararam que as pessoas em situação de rua viraram paisagem? Que as mulheres ganham menos fazendo o mesmo trabalho e muitos acha que tem que ser assim mesmo, pois engravidam?

Mas graças a Deus evoluímos e evoluiremos, reconhecendo erros e tentando não mais cometê-los. Não sou escravo do meu passado, apesar de ser responsável por ele. Se eu não pudesse ser melhor, de que serviria viver?

Às vezes me pergunto o que pensam meus companheiros de farra e esbórnia ao me verem franciscano secular. Já fiz muita coisa errada (aos olhos de hoje) e que não repetiria se tivesse a cabeça que tenho agora. Nem por isso me sinto acorrentado por elas. Posso estar errado em uma série de coisas que defendo hoje e quase certamente estarei, mas vivo e digo o que acredito agora.

Quanto a criança que estava grávida de outra criança, penso que haveria um bom número de possibilidades diferentes, menos violentas e traumáticas, mas quem sou eu para condená-la? Fosse ela minha filha talvez não deixasse que abortasse, mas ela não é!

Nem sei se tem alguma crença, se reza para algum deus. Creio ser difícil acreditar em Deus sendo estuprada desde os 6 anos. Como dizer que Deus é Pai, quando segundo o estuprador, o seu pai também abusava dela? Ao termos a possibilidade de apresentar um Deus que acolhe e que está ao lado do sofredor, pois Ele mesmo sofreu as injustiças desse mundo, apresentamos um deus que condena, que excomunga, que abre as portas do inferno.

No direito canônico não há abertura para o aborto, mas não é o Código Canônico que rege nossa sociedade. Pode ser que no futuro entendamos que o aborto realmente é um crime, ou que não. Com certeza continuaremos a ter certeza que o estupro o é!

Milenarmente as índias matam bebês que nasçam com deficiências, gêmeos ou frutos de adultério. Vão todas para o inferno? Na cresça delas é o que há de mais humano a fazer com aquelas crianças e o fazem por tradição e por amor.

Divagações, eu sei, mas achei serem relevantes neste momento sombrio da história onde as certezas não dão lugar à razão!

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